Conceito de Paradigma: Tese de Thomas Kuhn

O termo paradigma ganhou proeminência na filosofia da ciência nos anos 1960, principalmente através do trabalho de Thomas Kuhn (Griffiths, O’Callaghan e Roach, 2008: ix). A ideia de paradigma indica “uma importante conquista científica reconhecida por uma determinada comunidade de cientistas, que fornece um modelo do qual deriva uma tradição coerente de investigação científica e também uma maneira geral de olhar o mundo” (Borgatta e Montgomery, 2000: 2024).

Baseando-se nas ideias de Thomas Kuhn, Borgatta e Montgomery (ibid.) revelam que as principais funções de um paradigma incluem: (1) determinar que tipo de problemas são objectos de estudo apropriados (2) especificar meios apropriados para estudar estes problemas e (3) delimitar o tipo de teorias e explicações que são aceitáveis. No entanto, os autores indicam que há uma necessidade de distinguir um ‘paradigma’ de uma ‘teoria’. Assim, advogam que enquanto um paradigma bem desenvolvido pode conter várias teorias específicas, um paradigma é ‘metateórico’. Uma teoria faz declarações sobre o mundo, ao passo que um paradigma envolve afirmações sobre a natureza da teoria aceitável, as entidades apropriadas para investigar, e as abordagens correctas para tais investigações. Como um exemplar, um paradigma serve como um padrão normativo; portanto, é um tipo especial de modelo, um modelo do qual a determinada comunidade científica considera ser um trabalho exemplar.

Em suma, como afirmam Griffiths, O’Callaghan e Roach (2008: ix), um paradigma consiste de um conjunto de assumpções fundamentais sobre o objecto da ciência. Um paradigma tanto permite como constrange. Por um lado, ele ajuda a definir o que é importante para estudar e, igualmente, um paradigma é indispensável na simplificação da realidade isolando determinados factores e forças de uma multitude de inúmeras possibilidades. Por outro lado, um paradigma constrange dado que limita o nosso campo perceptual (o que nós ‘vemos’ como os actores e relacionamentos mais importantes num campo de estudo particular.

Modelo Kuhniano de Mudança Científica
Ao examinar a história da ciência, Kuhn desenvolveu um modelo de mudança na ciência edificado em torno do seu conceito de paradigma. O modelo emprega vários conceitos relacionados com ‘paradigma’ que estendem o seu significado: ciência normal, anomalia, crise, revolução, mudança paradigmática e incomensurabilidade.
  • Ciência Normal – quando um paradigma é aceite numa comunidade científica é largamente em termos de uma promessa de sucesso se os pesquisadores na comunidade seguirem o exemplo. “Ciência normal consiste na actualização de tal promessa, uma actualização alcançada estendendo o conhecimento àqueles factos que o paradigma expõe como particularmente reveladores, aumentando a amplitude da ligação entre aqueles factos e as previsões do paradigma e por maior articulação do paradigma em si”.
  • Anomalia – refere-se ao reconhecimento de que de alguma forma a natureza violou as expectativas induzidas pelo paradigma que governam a ciência normal.
  • Crise – é um período de profunda insegurança profissional que ocorre quando as anomalias se acumulam de tal forma que os cientistas questionam a competência do paradigma.
  • Revolução – as revoluções científicas são aqueles episódios desenvolvimentais não-cumulativos em que um paradigma antigo é substituído no seu todo ou em parte por um novo e incompatível.
  • Mudança Paradigmática – os cientistas com um novo paradigma não têm meramente novas interpretações para o que eles observam, mais do que isso, “vêem” as coisas de forma diferente.
  • Incomensurabilidade – durante períodos de crise coexistem paradigmas rivais e os defensores de paradigmas rivais não se entendem entre si pois têm diferentes formas de ver o mundo, diferentes padrões para avaliar e diferentes objectivos para a sua comunidade científica; isto é, existe uma incomensurabilidade. Consequentemente, conflitos entre paradigmas não podem ser resolvidos pelo apelo a um conjunto de criterios partilhados.
O modelo pode ser esquematizado nos seguintes termos:

Paradigma I Ciência Normal Anomalias Crise Revolução Paradigma II

Quando os membros da comunidade científica aceitam um paradigma, essa aceitação gera uma série de compromissos partilhados sobre os objectivos, os métodos para o alcance desses objectivos e os critérios para avaliar teorias e pesquisa. Estes compromissos são a base para um período de uma ciência normal, dado que o que estudar, como estudar e o que constituem explicações adequadas não são problemáticos. Durante o período da ciência normal, a comunidade vê o paradigma em si como inalterável e imune a desafio. Os cientistas trabalham para resolver os mistérios (quebra-cabeças) que o paradigma apresenta e pelos quais o paradigma garante soluções; neste processo de resolução de mistérios, surgem recusas das teorias contidas no paradigma e aparecem estudos empíricos com descobertas inesperadas. As recusas mais sérias e as descobertas mais surpreendentes são vistas como anomalias, e enquanto estas anomalias se acumulam, os cientistas estão em perda sobre como lidar com elas. No período de crise surgem paradigmas rivais, mas porque os paradigmas são incomensuráveis, os cientistas que aderem aos paradigmas rivais não têm uma base comum para escolher entre os competidores. O Paradigma II vence porque alguns cientistas sofrem a experiência de conversão de uma mudança de paradigma onde eles vêem o mundo de um modo diferente, porque os aderentes do Paradigma II são especialmente persuasivos, ou porque os aderentes do Paradigma I afrouxam (desaparecem).

Fontes
  • Borgatta, Edgar F. e Rhonda J. V. Montgomery. (2000). Encyclopedia of Sociology. Second Edition. Volume 3. Macmillan Reference USA. New York.
  • Griffiths, Martin, Terry O'Callaghan and Steven C. Roach. (2008) International Relations:The Key Concepts. Second Edition. Routledge. London and New York.